Conheça 4 Desenvolvedoras Gaúchas de Jogos

31 Mar 2020

Março foi um mês internacionalmente atípico. Em meio à pandemia instaurada pela COVID-19 e que afeta todos os setores, incluindo a indústria de jogos, fomos buscar um número que positivamente cresce na nossa indústria gaúcha. Trata-se do número de desenvolvedoras de jogos mulheres que, segundo o levantamento de 2019, já correspondem a quase 10% do total de desenvolvedores.

"Claro que este número ainda é baixo, mas a curva está crescendo e esperamos ano após ano aumentá-la. Hoje são 31 mulheres trabalhando no mercado gaúcho de games."

, comenta Ivan Sendin, Diretor Executivo da Associação.

Em homenagem ao Mês das Mulheres, ouvimos 4 desenvolvedoras integrantes de empresas da associação, com perfis e funções distintas, sobre os desafios do dia-a-dia e como encaram a profissão de game developer aqui no estado. Confira:

Luísa Cecília da Silva, Produtora na Hermit Crab

“Sou Produtora na Hermit Crab Game Studio desde o final de 2019. Meu dia a dia é bastante variado, pois trabalho em multiprojetos. Minha tarefa principal é o gerenciamento dos projetos, planejar sprints, conduzir reuniões diárias e garantir nossas entregas. Também fico em contato com os desenvolvedores parceiros. A integração com o time foi excelente desde o primeiro dia, estar em contato com a equipe o tempo todo é essencial para mim, atuando quase como um “hub” entre as áreas para entender e atender as necessidades de cada um.”

Sobre projetos sociais e incentivos:

“Projetos como a Women Game Jam, uma maratona de desenvolvimento de jogos com foco no público feminino, trans e não binário, proporcionam muitas vezes um primeiro contato com o desenvolvimento e são uma porta de entrada para muitas meninas na indústria de games. Além disso, existem editais públicos e privados para audiovisual com cotas para mulheres que assumem cargos de liderança nos projetos.”

Sobre a participação das mulheres na indústria:

“Fico muito feliz de ver cada vez mais gurias na indústria. Fui a primeira mulher na Hermit Crab, e em poucos meses já somos três. Felizmente as desenvolvedoras estão aparecendo mais na mídia, por exemplo, três das maiores universidades da capital e região metropolitana que oferecem o curso de jogos trazem meninas nas propagandas. É questão de representatividade mesmo, de inspirar outras meninas, ao ver alguém fazendo tu tem um ponto referência. Acredito que estar presente na indústria, nos eventos e estar acessível para outras meninas já faz a diferença!”


Luciana do Prado, Game Designer na Izyplay

“Meu primeiro trabalho com games foi na Izyplay Game Studio, empresa que estou há 2 anos. Meu primeiro projeto foi o Fantasy Bingo, o qual tenho muito carinho pois além de ser o primeiro jogo em que trabalhei, o fato de ser um jogo tão diferente do que eu estava acostumada fez com que eu aprendesse sobre muitas coisas diversas. Tive a oportunidade de misturar game design e marketing, o que acabou me integrando tanto com a equipe toda pelo lado do game design, quanto com os usuários por lidar com o marketing e suporte do jogo. Atualmente trabalho com várias etapas do processo de criação,  UX, mecânicas, balanceamento de economia. Também sou responsável pelo planejamento, criação e gerenciamento de campanhas de marketing.”

Sobre projetos sociais e incentivos:

“Já ouvi falar de alguns programas de bolsas no exterior e workshops em outras regiões do Brasil. Mas não conheço nenhuma iniciativa local, com exceção da Woman Game Jam. Acho a WGJ extremamente importante, pois oferece um local seguro para que mulheres da área criem jogos, interajam e se conheçam. Estamos tão acostumadas a ver poucas mulheres no dia-a-dia profissional, que entrar em uma sala cheia delas, em diferentes níveis profissionais, é muito motivador.”

Sobre a participação das mulheres na indústria:

“Tenho planos futuros para dar um apoio mais ativo, mas por enquanto vejo que minha contribuição pro cenário local  é simplesmente estando onde estou, sendo alguém que outras mulheres que desejam trabalhar na área possam se identificar. Fazer palestras, participar de eventos, ir nas jams, é uma forma de incentivar outras mulheres a estarem presentes também. Ainda temos muitos problemas na cena gamedev em relação à representatividade, mas fico feliz de fazer parte desse número cada vez maior de mulheres fazendo jogos.”


Patricia Silveira, COO na Painful Smile

“Faço parte da Painful Smile, onde somos hoje 3 sócios, dois homens e eu. Nossa equipe diminuiu bastante recentemente, contando com todos somos em 10 pessoas, sendo eu a única mulher. Mas não tenho problemas, me sinto bastante integrada à equipe, nosso trabalho flui bem e consegui me integrar rápido ao segmento de jogos. Estou há quase 1 ano na empresa e tenho orgulho de dizer que estou participando do desenvolvimento da Painful Smile como um todo, além do lançamento do Ultra FoodMess, que pra mim (que não sabia nada de jogos) foi o maior desafio até aqui.”

Sobre projetos sociais e incentivos:

“Acredito ser uma pauta importante, pois o segmento de jogos sendo novo aqui no Brasil vai demorar a se desenvolver como outros mais antigos. O interessante é sempre buscar por diversidade nas empresas e entender seu funcionários como parte essencial para o sucesso. Eu nunca participei de um incentivo social direcionado a mulheres, mas o que vejo muito hoje é a questão de mulheres com dificuldade de trabalhar ou arrumar emprego por preconceito de que ela não consiga fazer seu trabalho bem ou por não ter apoio nesse sentido.“

Sobre a participação das mulheres na indústria: 

“Eu me sinto uma mulher corajosa por ter traçado minha carreira em ambientes normalmente liderados por homens. Trabalhei por muitos anos em uma metalúrgica e aprendi a me impor e ser ouvida, pois isso é bem complicado quando se é mulher e jovem. Hoje, no ramo dos jogos, sinto que já consegui uma bagagem boa pra trabalhar em mais um segmento onde sua maioria são homens. Tento ser melhor no que faço para poder um dia ser exemplo para mulheres, que assim como eu, luta pela sua felicidade e seu lugar de honra.”


Carolina Lescher, Gestora de Comunidades na Rockhead

“Minha rotina é 100% alinhada entre as equipes de criação, desenvolvimento e comunicação. Tentamos sempre fazer com que os materiais se conversem e se complementem. O time é bem enxuto em questão de número de colaboradores e isso acaba sendo um ponto positivo na facilitação da troca de ideias sobre as rotinas de pauta de cada equipe. A comunicação foi o pilar mais recente implementado e sempre tive muita liberdade e autonomia em todo processo de criação do tom de comunicação e linha editorial da franquia.”

Sobre projetos sociais e incentivos:

“Já fui convidada para eventos onde o foco são mulheres no cenário de games e também para algumas game jams”

Sobre a participação das mulheres na indústria:

“Acredito que ainda tenhamos uma dificuldade quanto à aceitação da mulher no mercado de jogos, mas vejo isso cada vez sendo mais trabalhado e exercitado, especialmente pelas comunidades regionais. Procuro sempre mostrar como é um mercado em expansão e o quanto não só podemos como devemos fazer parte efetiva dele. Não devemos mais nos colocar em posição de aceitar qualquer coisa, mas sim, escolher aquilo que julgamos ser nosso merecimento e espero que muito em breve sejamos olhadas de igual para igual. Sem sub julgamentos ou preconceitos.”


Redação: Mau Salamon


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